Tecnologia holandesa oferece diversas soluções inovadoras para gestão da água

Equipamento que retira o líquido do rejeito, aumentando a segurança da barragem, bactérias que limpam a água usada na mineração são alguns exemplos

Por Conexão Mineral 29/09/2017 - 16:24 hs
Foto: Divulgação

Quando o assunto é água, os holandeses se destacam mundialmente na busca por soluções inovadoras e sustentáveis, como pode ser visto em barragens e diques  espalhados pelo país, que tem um quarto do território abaixo do nível do mar. Essa especialização, traduzida em mais de 1.500 empresas que atuam no setor de água, tem gerado participação holandesa em projetos em vários países, inclusive em mineradoras. Na última Exposibram, realizada em Belo Horizonte, as tecnologias oferecidas pela missão holandesa foram um destaque no evento.

Para Remon Daniel Boef, Representante Chefe do NBSO (escritório holandês de apoio aos negócios no Brasil), a participação holandesa foi avaliada como acima das expectativas. “A Exposibram, que é o principal evento do setor, ocorreu num momento em que a mineração no Brasil busca justamente o que as empresas holandesas têm a oferecer: propostas inovadoras de baixo impacto ambiental, seja por meio de máquinas ou projetos que atendem todo o ciclo de produção mineral, principalmente na interface com água”, afirmou Boef.

A missão holandesa no evento foi composta de 10 empresas: Hencon, Alia Instruments, TEMA BV, IHC Mining, Damen, Royal HaskoningDHV, Wetlantec, Antea Group, Deltares e Arcadis, além da NHTV Breda University, universidade especializada em turismo. Além dos contatos na feira e palestras, a delegação manteve encontros com executivos das maiores companhias do setor no Brasil – entre elas, ArcelorMittal, Vale e Usiminas –, apresentou seu portfólio de serviços para a Fundação Renova, encarregada de coordenar e compensar os danos causados pela tragédia de Mariana, e abriu oportunidades de negócios no mercado brasileiro por meio de contatos com potenciais clientes no estande da Holanda.

Especialistas brasileiros admitiram terem sido surpreendidos pelo modelo de atuação das empresas holandesas, marcado pela preocupação em desenvolver soluções de baixo impacto ambiental e custo-benefício satisfatório. “A questão da sustentabilidade na mineração passou a ser um tema urgente no Brasil após o acidente de Mariana, e as empresas holandesas demonstraram que sempre atuaram com essa característica”, disse Renato Ciminelli, assessor especial do Projeto Nova Mineração da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

O líder da missão, Dirk-Jan Koch, Enviado Especial para Recursos Naturais do governo holandês, participou de alguns desses encontros e ainda cumpriu uma extensa agenda paralela. Na terça-feira, Koch fez uma rápida viagem ao Rio, onde visitou o Brics- Centro de Estudos e Pesquisas e o Museu da Terra e ainda ministrou palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo tema “A mineração pode ajudar no desenvolvimento do Brasil? O que aprender e não aprender com a Holanda” refletiu a abordagem das empresas holandesas ao longo da missão: oferecer a expertise do país na busca de soluções tecnológicas e sustentáveis para a mineração do Brasil.

No dia seguinte, Koch foi a Ouro Preto, onde se reuniu com especialistas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Na sequência, foi recepcionado na Prefeitura de Mariana por autoridades locais e conheceu de perto os estragos causados pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 2015, num rápido passeio pela região devastada, incluindo o vilarejo de Bento Rodrigues. Koch encerrou a participação holandesa no evento participando de uma mesa-redonda com acadêmicos e especialistas sobre o papel da mineração na governança da água. O debate serviu como uma discussão preparatória para o 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em março de 2018 em Brasília, pela primeira vez sediado no Brasil.

“O fato de as empresas holandesas atuarem em forma de rede, por meio da plataforma Água & Mineração, da NWP, que contempla todas as demandas de um projeto de mineração, é um diferencial e chamou a atenção dos participantes da Exposibram”, afirmou Koch. “Vale frisar que o modelo de atuação das empresas holandesas leva em conta não apenas as soluções técnicas de extração, mas o ecossistema como um todo, buscando atender as necessidades da comunidade do entorno onde a mineração está presente”, acrescentou.

O melhor da tecnologia holandesa

Em um rápido seminário sobre a tecnologia disponibilizada, representantes de sete empresas holandesas se alternaram no palco para apresentar o que podem oferecer ao mercado brasileiro. A apresentação foi organizada pela NWP - Netherlands Water Partnership, instituição que congrega todas as empresas holandesas do setor de água, e refletiu o modelo de atuação das empresas holandesas.

A Royal Haskoning, multinacional presente em mais 30 países, expôs os serviços de consultoria e gerenciamento de recursos, em especial a tecnologia Nereda – que utiliza bactérias para limpar a água usada na mineração, sem resíduos contaminantes.

A Deltares, instituto independente de pesquisa aplicada para água com sede em Delft, apresentou vários cases de segurança envolvendo o transporte de grandes quantidades de minérios. Em um deles, a empresa foi chamada para criar uma solução para preservar e resgatar a carga de minério de níquel de um cargueiro de Hong Kong que afundou em 2013. A Deltares oferece know-how para projetos as áreas de meio ambiente, infraestrutura e recursos hídricos.

A Hencon, líder do mercado de veículos para a indústria siderúrgica, apresentou um veículo utilitário, o Mudcrawler, que retira água da lama, transformando resíduo líquido em sólido e diminuindo assim os volumes nas barragens e garantindo a segurança.

A Damen, estaleiro internacional que produz embarcações para todo tipo de finalidade, apresentou um modelo de draga elétrica utilizada na área de extração mineral ainda pouco utilizada no Brasil, uma opção mais sustentável em relação aos modelos tradicionais.

Outra novidade tecnológica foi demonstrada pelo representante da Alia, que produz equipamentos de monitoramento para a indústria marítima e de mineração: um dispositivo não nuclear de medição de densidade, uma inovação que agrega solução limpa. A empresa tem uma forte parceria, principalmente na área de pesquisa, com a Twente University, sediada na cidade mesmo nome e polo tecnológico da Holanda.

Já a IHC Mining trouxe uma boa notícia: a empresa, que produz embarcações e equipamentos pesados voltados para mineração marítima, está criando uma planta no Brasil para fabricar dragas. A empresa já atua com seus equipamentos na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, em Minas Gerais, afetada pela lama de rejeitos que vazou do acidente de Mariana, em 2015.

A última empresa a se apresentar foi o Antea Group, que presta consultoria ambiental para diversos setores, como o de água, mineração, infraestrutura e planejamento urbano. Recentemente, o grupo adquiriu a Angel Ambiental, uma empresa de consultoria brasileira, agregando sua vasta experiência no mercado brasileiro para ampliar a presença da Antea no País.

A Wetlandtec, uma das empresas mais conceituadas do mundo na área de purificação de água, apresenta como atrativo ao mercado brasileiro um processo altamente especializado para recuperação de nutrientes (metais, fosfato ou óleos finos) de águas residuais

Já a Arcadis oferece projetos voltados para áreas de gerenciamento de água e prevenção de desastres naturais.

Já a NHTV (Universidade NHTV Breda de Ciências Aplicadas) tem outra abordagem na Exposibram: consultoria nas áreas de conservação de identidade cultural, no resgate do patrimônio cultural e no desenvolvimento ou recuperação de turismo de regiões degradadas, que podem ser úteis na região do Rio Doce atingida pelos rejeitos liberados pelo acidente de Mariana.