Projetos de mineração em desenvolvimento demonstram o grande potencial nacional

Oportunidades foram apresentadas no Simexmin 2021, evento promovido pela Adimb

Por Conexão Mineral 13/08/2021 - 16:13 hs
Foto: Simexmin/Adimb
Projetos de mineração em desenvolvimento demonstram o grande potencial nacional
Próxima edição do evento deverá ser realizada em Ouro Preto (MG)

Mais que a qualidade da pesquisa e exploração minera brasileiras, o Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral - Simexmin 2021 também demonstrou, durante os quatro dias do evento, que a indústria da mineração opera com grande vigor. Depois de alcançar resultados positivos no ano passado, apesar da pandemia de Covid-19, a projeção para o presente exercício é das melhores, o que favorece o desenvolvimento de projetos no país e também no exterior, como foi apresentado no último painel “Desenvolvimento e Expansão de Projetos”.

O geólogo e gerente de Exploração da Appian Capital Brazil, Elton Pereira, destacou que a empresa é um fundo de capital inglês que revisou mais de 2 mil projetos de exploração pelo mundo, investiu em nove e levou seis à produção. As iniciativas no Brasil -  Projeto Antas, Mineração Rio Verde/Projeto Serrote e Fazenda Mirabela – receberam US$ 400 milhões em aportes, para a exploração de níquel e cobre.

“A empresa prioriza projetos em fase mais avançada e que têm licenciamento ambiental avançado ou concluído. Isso possibilita colocar em produção em dois ou três anos, como aconteceu com a Mina de Santa Rita, adquirida em 2018 e que retomou operações no ano seguinte, já tendo realizado 13 embarques para o mercado consumidor da Ásia”, destaca.

O Brasil tem sido considerado a nova fronteira de níquel com mundo, devido ao grande número de reservas de classe mundial. No Vale do Curaçá, na Bahia, um projeto de mais de 40 anos, os depósitos de cobre, níquel, ouro e paládio são fruto de processos geológicos complexos, conforme o gerente de exploração da Brasil Ero Cooper, Filipe Porto. Com foco em atuação no Brasil, a companhia também tem o projeto Boa Esperança, em Carajás, e outro, na fase de estudo para desenvolvimento e produção de ouro em Nova Xavantina, no Mato Grosso.

“A mentalidade de exploração é bastante agressiva. Temos 37 sondas espalhadas nos três projetos. Delas, 25 apenas no Vale do Curaçá, na Bahia. Depois que assumimos a planta, houve investimentos de US$ 105,2 milhões, com foco no níquel vermelho, que tem teores mais altos”, ressalta.

A transnacional Vale apresentou o projeto Hu’u, na Ilha de Sumbawa, na Indonésia. Segundo o gerente executivo de Exploração e Desenvolvimento de Negócios da Vale, Fábio Massoti, a companhia detém 80% do projeto que é desenvolvido em parceria com uma mineradora local que responde pelos outros 20%. A área de 19 mil hectares tem reservas bastante expressivas de ouro, com 15 milhões de toneladas, com 27 milhões de onças, e cobre.

“O projeto está na fase de estudos pela sua complexidade. Ainda é cedo para falar em operação mas estamos trabalhando com afinco para poder desenvolver a planta daqui para frente. A Indonésia tem muito a oferecer em alvos de cobre, níquel e ouro. Para cobre, é o melhor do mundo”, comentou.

Outro projeto de ouro em desenvolvimento pela Bemisa Brasil é o Água Azul, localizado na cidade de Água Azul do Norte, em Carajás. O diretor de Exploração, Fábio Guimarães, informou que a planta aguarda resoluções de infraestrutura para dar continuidade ao negócio. A expectativa é que a lavra seja plotada já em 2022, mas a expectativa da companhia e iniciar as atividades da planta industrial em 2025.

“Terminamos 2020 com127 furos de sondagem em uma área de 21 mil metros quadrados em alguns dos alvos localizados no Projeto Água Azul. Com a avaliação de recursos, trabalhamos a ideia de aproveitar o recurso de maior nobreza para tocar a lavra experimental”, conclui.

Os mediadores do painel foram a professora da UFMG e consultora Lydia Lobato e o diretor de Mineração da Bemisa Brasil, Cláudio Fernandes.

Setor de fertilizantes busca reduzir a dependência por insumos externos

Com uma produção de alimentos para mais de 1,4 bilhão de pessoas e consumo anual de 40 milhões de toneladas de insumos para a produção de fertilizantes – nitrogênio, potássio e fosfatos (NPK) – o Brasil tem pouco tempo para reverter ou pelo menos reduzir a dependência de 80% do mercado externo para esses minerais, fundamentais para a produção agrícola nacional. Segundo o pesquisador da Embrapa, Eder Martins, um dos participantes do painel “Minerais estratégicos e agrominerais” do Simexmin 2021, após um pico de produção em 2060, esses produtos tendem a reduzir a oferta, nos anos seguintes.

Ele ressalta que a migração para os Bio Insumos, produtos a base de minerais encontrados no país, é a saída caseira para esse colapso anunciado, tendo em vista que a demanda por fertilizantes cresce 6% no país a cada ano, para acompanhar os aumentos sucessivos de produtividade. O Programa Nacional de Bio Insumos, lançado em 2020 pelo governo federal, já está presente em 15 milhões de hectares de propriedades rurais e o nível de recompra é superior a 80%.  “Podemos começar da mineração que já existe, como as plantas produtoras de brita. São 9,5 mil pedreiras ativas e 9 mil com potencial para produtos agrícolas”, afirma.

Ainda conforme Martins, a estimativa é de que, entre 5 e 10 anos, a demanda duplique para remineralizadores produzidos com minerais encontrados no país e que podem contribuir para o manejo da fertilidade do solo, atendendo à exigência das diferentes culturas. Os minerais silicáticos, por exemplo, têm curva mais próxima das necessidades da plantação e, ao longo dos anos, respondem positivamente em nutrientes e melhoria do solo, conforme resultado de pesquisas já realizadas.

Metais de uso tecnológico

As oportunidades para a mineração não se encerram por aí. Segundo o chefe de Departamento de Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marcelo Almeida, os chamados metais de uso tecnológico – lítio, cobalto, cobre, níquel, grafita, terras raras, urânio e outros – também têm registrado demanda crescente nos últimos anos, por serem considerados estratégicos e portadores de futuro, já que atendem as necessidades de mercados em constante desenvolvimento, como ressaltou o chefe do Departamento de Recurso Minerais da CPRM, Marcelo Almeida.

Apenas para o lítio, mineral usado na confecção de baterias, houve um crescimento de 46% nas reservas e de 98% na produção no país, desde 2016. Quanto ao cobre, há 13 áreas distritos em análise para esse metal. Já a grafita, que tem um programa nacional próprio, são 887 pontos cadastrados em 31 províncias de interesse. “A evolução tecnológica e as transições de energias vão puxar a demanda por minérios estratégicos e críticos. Ampliar descobertas de novos depósitos e de novos elementos e fazer pesquisas em descarte de mineração são algumas das iniciativas que demandam política pública alinhada aos interesses do Brasil, bem como o acesso a uma base de dados de consulta atualizada e integrada com dados econômicos e multifontes”, avalia.

Entre os metais tecnológicos, a grafita brasileira é outro destaque. Pesquisas com esse material têm sido promissoras, visto que o material encontrado no país tem um formato do tipo flake, que corresponde a apenas 25% das reservas mundiais. Segundo a pesquisadora em Geociências do CPRM, Débora Matos, que trabalha em parceria com o professor e pesquisador Antônio Carlos Pedrosa Soares, esse pode ser um diferencial competitivo para o produto nacional, inclusive no mercado externo.

“É um material que tem sido estudado há muito tempo e ganhou destaque em 2004. O grafeno tem alta propriedade de retenção de energia, tudo o que a indústria quer”, adianta. Atualmente há duas plantas nacionais explorando o produto. Uma delas é o Projeto MGGrafeno, iniciativa conjunta entre UFMG e CDTN, com financiamento da Codemge. Há também o CTNano, centro de tecnologia em nanutubos de carbono e grafeno, na UFMG.

Processo químico aproveita 70% do potássio da glauconita

A produção de sulfato de potássio, insumo para a produção de fertilizantes, a partir do aproveitamento da glauconita é um dos exemplos de como a pesquisa mineral pode solucionar internamente as demandas do agronegócio.  O diretor presidente da Kallium Mineração, Ricardo Dequech, relata que iniciou a implantação da planta em Dores do Indaiá, há três anos, após sete para desenvolvimento e os resultados são promissores. “Minas Gerais tem uma reserva de 1,5 bilhão de toneladas e esse material nunca foi aproveitado em função da falta de tecnologia para abertura química, um processo químico que garante 70% de aproveitamento do potássio da glauconita”, explica.

Outro destaque da planta é a sustentabilidade ambiental, visto que todos os subprodutos da operação são reaproveitados e a lavra não causa qualquer impacto. “Não há resíduo sólido e nem gás, que é reaproveitado na planta de ácido sulfúrico. Não temos afluente em água ou contaminação na região.  Com um ajuste fino do processo, é possível aproveitar até as cinzas da queima de eucalipto, que podem ser transformadas em produto para compostagem ou aplicação na agricultura”, prevê.

Os mediadores do painel foram a pesquisadora em Geociências (SGB/CPRM), Magda Bergnamm e o engenheiro químico Renato Costa.

Evento volta a ser presencial em 2022, segundo ADIMB

No encerramento da primeira edição online do Simpósio Brasileiro de Exploração Mineral, o presidente do Conselho Superior da Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (Adimb), Marcos André Gomes Veiga Gonçalves afirmou que o evento retorna para Ouro Preto na 10ª edição e será presencial.

“Chegamos ao fim de mais um Simexmin. Eu agradeço as empresas patrocinadoras, o apoio das expositoras com estandes e a equipe Adimb que fez um excelente trabalho na organização do evento. Tivemos palestras interessantes e, porque fizemos online, reunimos 934 colegas de 19 países”, disse.

O site de acesso registrou mais de 8,1 mil acessos únicos, com audiência de 4124 participantes nos painéis e média de 318 participantes.