Tecnologias que conduzem a mineração a uma nova era
Por Paulo Alvarenga*
O setor de mineração no Brasil passa por uma grande disrupção tecnológica, transformação que impactará de forma extremamente positiva três vertentes que, imprescindivelmente, precisam estar conectadas: produtividade, segurança operacional e sustentabilidade. Somos o principal exportador global de minério de ferro e o segundo maior produtor do mundo, com aproximadamente 9% de toda a reserva mundial da matéria-prima, representando 5% do PIB nacional. Trata-se, portanto, de uma atividade crucial para a economia do país e que precisa receber a devida atenção para incentivos que melhorem ainda mais seu desempenho.
Até 2024, o setor espera receber investimentos de US$ 38 bilhões, aumento de 40% do que estava previsto de 2019 a 2023. Isso porque a mineração no Brasil está redefinindo sua imagem como uma fonte sustentável e responsável de minerais do mundo e tem a tecnologia como a principal aliada para esta missão. Por meio de soluções digitalizadas provenientes da indústria 4.0, tais como inteligência artificial, machine learning, automação, análise computacional, realidade virtual e veículos aéreos, é possível criar um trabalho colaborativo, inteligente e minucioso que aumente a eficiência dos processos, reduza custos e despesas, mitigue riscos ergonômicos para os operadores, prolongue o ciclo de vida dos equipamentos e diminua a emissão de CO2 na atmosfera pelo menor consumo de combustível.
É um caminho que já vem sendo percorrido pelas empresas de mineração, como mostra a pesquisa anual da KPMG sobre riscos e oportunidades do setor, em que 59% dos executivos entrevistados, de companhias de sete países da América do Sul, afirmam que a transformação tecnológica e a inovação são a principal estratégia para garantir o crescimento dos negócios nos próximos três anos. Dentro deste mesmo período, 52% esperam uma maior disrupção tecnológica como reflexo dos processos que estão sendo implementados e 90% acreditam que a tecnologia representa mais uma oportunidade do que ameaça.
Outra referência que aponta para essa percepção é o estudo feito pela consultoria Ernst & Young com o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). De acordo com o documento, programas conjuntos de inovação aberta, aceleração do uso de soluções digitais e convergência entre plataformas tecnológicas, administrativas e industriais estão entre as iniciativas de mineradoras para atender as metas de descarbonização da indústria e o Padrão Global para Gestão de Rejeitos. Com o aumento das regulamentações e critérios de licença para operação, o desenvolvimento tecnológico se tornou ainda mais importante para aumentar a vida útil e a segurança das minas já licenciadas, processando minérios compactos e com baixo teor.
Outro aspecto preponderante à adoção de novas tecnologias é a forte volatilidade do preço das commodities, tido como o principal fator de preocupação entre as mineradoras sul-americanas. Se em momentos de alta a forte geração de volume e a redução de custos são vitais para o controle saudável da empresa, em situações adversas essa combinação é ainda mais determinante para assegurar bons resultados. E é justamente isso que a tecnologia proporciona e que já é uma realidade, graças à aplicação de sistemas de empilhadeiras e recuperadoras autônomas, carregadores de vagões com inteligência artificial e óculos de realidade virtual para serviços remotos de inspeção e manutenção.
É possível implementar inovações tecnológicas em benefício da segurança e sustentabilidade sem perder a competitividade. Pelo contrário, a adoção de novas práticas e novas tecnologias deve permitir a redução de custos ao evitar perdas e paradas oriundas de problemas de segurança operacional ou resolução de problemas ambientais. A mineração brasileira tem grande potencial a ser explorado, e já vem despontando como um polo de desenvolvimento para a Mineração 4.0. Para isso, cabe às empresas se unirem para promover ações de interesse coletivo do mercado, integrando mineradoras, fornecedores, startups e pesquisadores em busca de soluções para os desafios comuns. A Alemanha, por exemplo, possui um ecossistema praticamente completo de empresas especializadas no assunto e que poderiam contribuir de maneira significativa para o avanço da digitalização desse mercado no Brasil.
(*) Paulo Alvarenga é CEO da thyssenkrupp na América do Sul e vice-presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo.
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