Faturamento do minério de ferro, ouro, cobre e bauxita em queda

Resultados da mineração no primeiro semestre apresentam queda em relação a 2021

Por Conexão Mineral 04/08/2022 - 21:07 hs
Foto: Ibram
Faturamento do minério de ferro, ouro, cobre e bauxita em queda
A produção estimada em toneladas no 1ºSEM22 foi de 441 milhões de toneladas

A redução das compras de minério pela China (quase 30% em dólar) foi a grande responsável pela queda expressiva de 52,5% do saldo comercial mineral do Brasil no 1º semestre de 2022, em comparação ao 1º semestre de 2021. Isso porque o país exportou menos 24% e, além disso, importou 200% a mais de minérios (em dólar). A exportação de minérios é uma das mais importantes geradoras de divisas ao Brasil. 

“Mais uma vez está comprovado com dados concretos que a mineração, inclusive a do Brasil, tem um comportamento cíclico e depende dos humores do mercado internacional para apresentar bons resultados. O desempenho setorial do 1º semestre está bem abaixo do que foi apurado no ano passado e o país perde divisas, atratividade para investimentos, geração de negócios, emprego, renda e tributos”, diz o presidente do IBRAM – Mineração do Brasil, Raul Jungmann.

Ele acrescenta que “a mineração, portanto, precisa ser estimulada e não pode ser alvo constante de ações internas que visam elevar seus custos e, assim, derrubar sua competitividade. Os ataques especulativos, como os que ocorrem no Parlamento, precisam ser debelados e, enquanto isso, o faturamento do setor decai”, afirma Jungmann, ao fazer referência a propostas legislativas que buscam elevar valores de royalties, além da criação de taxas por estados, que recaem sobre as mineradoras, todos fatores danosos para a segurança jurídica e para a atração de investimentos.

Raul Jungmann e outros dirigentes e técnicos do IBRAM apresentaram os resultados da indústria da mineração no 1º semestre, em entrevista coletiva à imprensa no dia 27/7. 

Movimento negativo no comércio exterior

O minério mais produzido e exportado pelo Brasil, o minério de ferro, apresentou redução nas vendas externas de US$ 21,5 bilhões e 167,1 milhões de toneladas no 1ºSEM21 para US$ 15 bilhões e 154,4 milhões de toneladas no 1ºSEM22. As exportações de ouro caíram quase 8% (US$ 2,3 bilhões) no 1ºSEM22 e 11,5% em toneladas na comparação com o 1ºSEM21.

Minério de Ferro

Países compradores do minério brasileiro: China 64,8%; Malásia 5,2%; Japão 4,1%; Barein 3,8%; Omã 3,1%; Países Baixos (Holanda) 2,8%; Coreia do Sul 2,6%; Turquia 1,7%; Filipinas 1,6%; França 1,6%; Argentina 1,2%; Itália 1,1%; Bélgica 1,0%

Ouro

Países compradores do minério brasileiro: Canadá 33,9%; Índia 16,3%; Reino Unido 14,9%; Suíça 14,5%; Emirados Árabes Unidos 8,6%; Itália 4,0%; Bélgica 3,9%; Turquia 1,5%; Alemanha 1,0%; Estados Unidos 1,0%.

Importações explodem

Já as importações cresceram 200% no 1ºSEM22: US$ 9,4 bilhões. Chama a atenção que este valor corresponde a quase a metade do valor exportado em minérios no período, US$ 21,1 bilhões. O Brasil importou mais minérios no 2ºTRIM em relação ao 1ºTRIM22: 93% a mais. Carvão mineral para uso siderúrgico e potássio para fabricação de fertilizantes apresentaram maiores percentuais nos custos das importações.

Carvão mineral

Fornecedores do Brasil: Austrália 32,0%; Estados Unidos 27,5%; Colômbia 18,1%; Rússia 17,5%; África do Sul 2,2%; Peru 0,8%; China 0,7%; Canadá 0,7%; Cazaquistão 0,5%.

Potássio

Fornecedores do Brasil: Canadá 32,5%; Rússia 27,5%; Belarus 13,5%; Alemanha 8,8%; Israel 8,1%; Chile 3,7%; Espanha 2,2%; Reino Unido 1,5%; Jordânia 1,2%.

Saldo mineral desaba

Com menos exportações e mais importações de minérios, o peso do saldo comercial de minérios no saldo total da balança comercial decaiu expressivamente: representou apenas 34% no 1ºSEM22. Já no 1ºSEM21 o saldo mineral representava 67% do saldo total. As exportações de minérios (US$ 21,1 bilhões = 160,8 milhões de toneladas) caíram quase 24% em dólar e 8% em toneladas no 1ºSEM22 em relação ao 1ºSEM21. Mas no 2ºTRIM22 cresceram 23,6% em dólar e 12,6% em toneladas na comparação ao 1ºTRIM22.

Exportações para a China

O 1ºSEM22, considerando apenas as exportações de minérios do Brasil para a China, houve redução de 29,7% em dólar e de 7,1% em toneladas. 

As exportações de minério de ferro para a China no 1ºSEM22 caíram 32,3% em dólar e 7,2% em toneladas, na comparação com o 1ºSEM21. As de cobre caíram quase 28% em dólar e 22,2% em toneladas. As de zinco caíram 34,6% e 34,3%, respectivamente.

Já as exportações de manganês para a China cresceram 32,5% em dólar e 20,2% em toneladas. As de pedras naturais e revestimentos ornamentais cresceram 30,4% em dólar e 3,2% em toneladas. As de nióbio aumentaram 16% e 1,6%, respectivamente. As exportações de caulim cresceram 18,3% em dólar mas caíram 0,8% em toneladas. Outras substâncias minerais apresentaram crescimento de 84% em dólar e queda de 25,7%.

Fator China

Vários fatores levaram as compras chinesas de minérios a apresentarem queda no 1ºSEM22, entre as quais: 

várias siderúrgicas chinesas diminuíram sua produção de aço em resposta às medidas de controle de qualidade do ar durante as Olimpíadas de Inverno, em  fevereiro. Restrições ambientais foram rigorosamente impostas ao mercado físico pelo governo chinês;

menor demanda das siderúrgicas chinesas também causou aumento nos estoques portuários de minério de ferro;

lockdown em várias regiões industriais na China, devido às medidas de controle para o novo surto de Covid 19, resultando em diminuição da demanda de aço nas indústrias e estagnação na aquisição de matérias-primas;

quedas nas importações pela China, como uma das medidas de controle de preços para o segundo trimestre de 2022;

a China intensificou os controles de preços desde o terceiro trimestre do ano passado, enquanto a demanda da matéria-prima também diminuiu;

a produção de aço da China caiu cerca de 6,7% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Além disso, pontua o IBRAM – Mineração do Brasil, a invasão da Rússia à Ucrânia também causou certo temor nos produtores globais, que tiveram mais cautela e reduziram seus percentuais de produção.

Indústria brasileira perde faturamento

Com menos exportações no 1ºSEM22, houve consequente redução de 24% no faturamento da indústria da mineração brasileira (R$ 113,2 bilhões), na comparação com o 1º semestre de 2021 (R$ 149 bilhões). Considerando o movimento trimestral, no 2ºTRIM22 o faturamento foi de R$ 57 bilhões, pouco acima dos R$ 56,2 bilhões do 1ºTRIM22.

Este ano, de janeiro a março, a queda no faturamento já havia sido de 20%, em relação a igual período de 2021. No entanto, no 2º trimestre deste ano houve elevação de 1% no faturamento, em relação ao 1ºTRIM22, e a projeção é de recuperação gradativa dos resultados no 2º semestre deste ano, informa o IBRAM – Mineração do Brasil. O minério de ferro respondeu por 60% do faturamento da indústria mineral no 1ºSEM22 seguido pelo ouro (10%) e pelo cobre (7%).

A produção estimada em toneladas no 1ºSEM22 foi de 441 milhões de toneladas enquanto que no 1ºSEM21 foi de 483 milhões de toneladas, uma queda de 9%. 

MG ultrapassa PA em faturamento, mas ambos perdem faturamento

Os dois principais estados mineradores do país apresentaram queda no faturamento no 1ºSEM22. Os números divulgados pelo IBRAM – Mineração do Brasil indicam que MG teve faturamento de R$ 45,2 bilhões no 1ºSEM22 ante R$ 61,4 bilhões no 1ºSEM21 (26% a menos); PA registrou faturamento de R$ 41,4 bilhões no 1ºSEM22 ante R$ 65,4 bilhões no 1ºSEM21 (37% menor).

Minas Gerais ultrapassou o Pará em faturamento no 1º semestre, devido ao aumento das exportações de minério de ferro, que tiveram aumento no 2º trimestre. Bahia, Mato Grosso e São Paulo apresentaram alta no faturamento no semestre e no 2º trimestre: SP devido à produção de agregados para construção civil, de água mineral e fosfato; MT em razão da produção de ouro e calcário dolomítico (muito usado na correção de solos); e a BA por ser importante produtor de níquel, ouro, vanádio e rochas ornamentais.

O faturamento da BA saltou de R$ 4,1 bilhões no 1ºSEM21 para R$ 5,2 bilhões no 2ºSEM22. O de MT subiu de R$ 2,7 bilhões para R$ 2,9 bilhões. O de SP passou de R$ 2,6 bilhões para R$ 3,6 bilhões.

O faturamento do estado de Goiás cresceu de R$ 3,8 bilhões para R$ 4,1 bilhões. No entanto, GO teve queda acentuada no faturamento no 2º trimestre: o faturamento do fosfato no Brasil no 2º trimestre caiu 19,7%, uma das razões para a queda do faturamento do estado, que é importante produtor, além das quedas de preço e faturamento para o ouro e cobre.

No 1ºSEM22 MG respondeu por 40% do faturamento; PA por 37%; outros 10%; BA 5%; GO 4%; SP e MT 3% cada.

Faturamento do minério de ferro, ouro, cobre e bauxita em queda

Minério de ferro, ouro, cobre e bauxita tiveram queda no faturamento de 36%, 15%, 3% e 3%, respectivamente, no 1ºSEM22. O faturamento do minério de ferro caiu de R$ 107,5 bilhões no 1ºSEM21 para R$ 68,3 bilhões no 1ºSEM22. O minério de ferro teve leve recuperação no comparativo trimestral, com alta de 9%. Calcário e granito registram alta no semestre e no 2º trimestre.

Faturamento derruba recolhimento de impostos e royalties

Com menos exportações e menor produção, a indústria mineral faturou menos e isso influenciou o total de impostos e encargos recolhidos no 1ºSEM22. No total, essa arrecadação total de tributos e taxas caiu 24%: de R$ 51,4 bilhões no 1ºSEM21 para R$ 39 bilhões no 1ºSEM22. Somente o royalty chamado CFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais apresentou queda de 25%, com recolhimento de R$ 3,4 bilhões no 1ºSEM22. O IBRAM – Mineração do Brasil ressalta que o total de recolhimento de CFEM não varia rigorosamente conforme o faturamento do período.

A CFEM recolhida sobre o minério de ferro é mais expressiva: 71% do total. Em seguida estão: outras substâncias minerais, 17%; ouro 5,2%; cobre, 4,7%; minério de alumínio, 2,3%.

Minas Gerais responde por 42% do recolhimento de CFEM no 1ºSEM22; Pará por 39%; outros por 5%; Bahia por 3%; Mato Grosso por 2%; e Goiás por 1%. Segundo a Agência Nacional de Mineração, 2.535 municípios recolheram CFEM no 1ºSEM22 e a maioria está em MG: 485. Depois vem SP com 339 municípios; RS com 210; SC com 186; BA com 173; PR com 175; GO com 137; MT com 86; CE com 84; RJ com 68.

9 municípios mineradores têm IDH superior ao dos estados

Municípios de MG, PA e MS compõem o grupo dos 15 maiores arrecadadores de CFEM por produção no 1ºSEM22. Parauapebas (PA) lidera o ranking com R$ 545 milhões; Canaã dos Carajás (PA) com R$ 498 milhões vem em seguida e depois Conceição do Mato Dentro (MG) com R$ 191 milhões.

Dos 15 maiores municípios arrecadadores de CFEM, 9 têm IDH – Índice de Desenvolvimento Humano maior do que o IDH do estado: Parauapebas, Canaã dos Carajás, Marabá (PA); Mariana, Itabirito, Nova Lima, Congonhas, Ouro Preto e Paracatu (MG).

Empregos e investimentos

O IBRAM – Mineração do Brasil apurou que dados oficiais mostram que o setor mineral matinha 201.658 empregos diretos em maio de 2022 (Novo CAGED). Cada vaga direta corresponde a outras 11 na cadeia produtiva, o que representa mais de 2 milhões de empregos. Em janeiro o total de empregos diretos era 198 mil.

Os investimentos previstos para o período 2022-2026 estão situados em US$ 40,4 bilhões: US$ 18,7 bilhões em execução (46%) e US$ 21,7 bilhões (54%) programados. A maior parcela seguirá para projetos em MG (US$ 11,1 bilhões = 27%). Depois estão: PA (US$ 4,4 bilhões = 11%); BA (US$ 5,9 bilhões = 15%); outros estados (US$ 18,9 bilhões = 47%).

Os maiores aportes serão para projetos de minério de ferro (US$ 13,6 bilhões); minérios para fertilizantes (US$ 5,7 bilhões); bauxita (US$ 5,5 bilhões); ferrovias e portos (US$ 2,9 bilhões); ouro (US$ 2,9 bilhões); cobre (US$ 1,2 bilhão). Outros projetos receberão US$ 8,4 bilhões, incluindo investimentos socioambientais, que somarão US$ 4,24 bilhões.