Mulheres são cerca de 17% da força de trabalho na mineração mas empresas buscam melhorias

Edição Especial da Conexão Mineral “As Mulheres na Mineração Brasileira” reúne os relatos dos principais programas e avanços das mineradoras

Por Conexão Mineral 08/03/2023 - 19:27 hs
Foto: Conexão Mineral
Mulheres são cerca de 17% da força de trabalho na mineração mas empresas buscam melhorias
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Em 08 de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher e a data é uma boa oportunidade para uma reflexão sobre a diversidade, em especial a participação feminina em segmentos tradicionalmente com maior presença masculina, como mineração e siderurgia. Mineradoras e instituições representativas do setor, como Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e Women in Mining Brasil (WIMBrasil), por exemplo, já há alguns anos abordam sistematicamente o tema da Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI). Mas embora os avanços obtidos, principalmente nos últimos anos, sejam inegáveis, o caminho a ser percorrido ainda é longo e demanda um expressivo trabalho de conscientização.

Conexão Mineral ouviu algumas das principais empresas para a Edição Especial As Mulheres na Mineração Brasileira, como Anglo American, Bamin, Equinox Gold, Nexa, RHI Magnesita, Usiminas e Vale, que compartilharam seus avanços e dificuldades rumo à diversidade, principalmente no que diz respeito à inclusão feminina. Essas entrevistas estão agrupadas na Edição Especial distribuída no formato newsletter e também podem ser lidas, assim como outras notícias sobre o assunto, acessando a aba “RH”, no início do site.

Números

O WIM Brasil, em parceria com a EY, produziu em setembro do ano passado a segunda edição de um relatório que ouviu 34 empresas em maio de 2022. A primeira versão, lançada em 2021, contava com a participação de 16 respondentes. Os resultados dessa importante iniciativa permitem entender melhor a situação atual e o potencial para mudanças positivas nos próximos anos.   

Segundo o relatório, a apesar de representarem 52% da população brasileira, as mulheres ainda não são foco das práticas e políticas das empresas. Estudos mostram que as mulheres estão sub-representadas na maioria das indústrias extrativistas (petróleo, gás e mineração) em todos os níveis, mas especialmente na alta liderança. De acordo com a Catalyst9, organização sem fins lucrativos com foco em diversidade de gênero, em 2019 as mulheres representavam apenas 19% da força de trabalho extrativista do Canadá, e em 2020, os Estados Unidos registraram 15% de representatividade feminina no setor extrativista.

A pesquisa divulgada pelo WIM Brasil demonstrou que a realidade brasileira é similar: mulheres correspondem a 17% da força de trabalho das respondentes. Isto representa um aumento de 2% se comparado aos dados de 2021. A representatividade feminina em times executivos e conselhos administrativos alcançou cerca de 20%. É possível também notar que a representatividade feminina é menor em ambientes operacionais.

Diversibram

No dia 28 de março, o Ibram vai organizar a segunda edição da Diversibram - Mineração sem Rótulos. O evento, gratuito e virtual, pretende estimular o debate sobre as ações desenvolvidas pelo setor mineral em prol desta temática. Para Patrícia Procópio, presidente WIMBrasil, uma das grandes barreiras que a mineração e outras indústrias ainda precisam superar para garantir uma maior diversidade e inclusão é a cultural. “Para que se estabeleça um plano efetivo de inclusão de mulheres no setor é necessário que o compromisso com a diversidade seja assumido de forma estratégica e transparente, com a implementação de ações efetivas. É necessário que se invista recursos humanos e financeiros para que a transformação seja real e permanente; e impacte todos os ambientes e níveis das organizações”, afirma a presidente do WIMBrasil. Ela será uma das palestrantes da abertura da 2ª Diversibram. “Mais da metade da população do Brasil é constituída por mulheres e garantir que essas mulheres tenham acesso igualitário ao mercado de trabalho é garantir também um maior e melhor desenvolvimento econômico e social do país como um todo”, salienta.

Patrícia espera que o Brasil alcance a igualdade de gêneros no mercado de trabalho, porém, o caminho é longo e árduo. “Para atingir esse objetivo, é preciso que haja uma união de esforços, tanto do setor público, implementando ações para a promoção de políticas públicas que fomentem a inclusão de gênero no mercado de trabalho quanto do setor privado se comprometendo com o desenvolvimento e execução de ações efetivas para uma força de trabalho mais inclusiva e diversa”, analisa.

A presidente do WIMBrasil acredita que eventos como este estimulam muito o setor a pensar e agir para um ambiente cada vez mais diverso. “A Diversibram já é um grande diferencial para fomentar essas transformações no setor. A dedicação do Ibram em promover um encontro 100% sobre o tema faz com que a mineração agregue esta pauta, mantendo-a sempre ativa. É uma forma de obtermos mais diálogo aberto com trocas e aprendizados entre as empresas”, afirma.

Contra resultados não há argumentos

Embora exista sim avanço no sentido de vencer os preconceitos no setor, no geral, as mudanças ainda demandam uma resiliência pessoal. “A Associação Paraense de Engenheiros de Minas (Assopem) respeita a igualdade de gênero e busca fomentar o espaço feminino na mineração. Esse fomento é visível desde a formação da diretoria, onde há representatividade feminina na equipe. São dez cargos que compõem a diretoria, sendo quatro destes ocupados por engenheiras, incluindo a presidência”, conta sua presidente, Elizane Andrade. 

Mas sua história ilustra bem o que as mulheres ainda enfrentam. “Durante minha carreira até aqui pude vivenciar uma evolução importante na posição da mulher na mineração. Hoje, percebo que nós conseguimos ser vistas como devemos ser, como profissionais! Mas ainda há muitos desafios, e apesar da evolução ainda não estamos em patamares totalmente igualitários. Uma situação que me marcou muito foi no início da minha carreira, no meu primeiro estágio. Fui em uma pedreira conversar com o dono para pedir uma oportunidade de estágio e ele me questionou se eu estava na profissão certa. ‘Tem certeza que quer isso pra sua vida? Você é tão delicada para trabalhar em um ambiente hostil, não sei se vai conseguir aguentar’.  Falei para ele que eu era apaixonada pela engenharia de minas e era o que queria para minha vida. Consegui o estágio, e ao finalizar minha trajetória de estagiária ele havia mudado sua percepção. As palavras dele ao final do meu estágio foram ‘achei que você não iria aguentar, mas estava enganado. Fez um excelente trabalho, estou orgulhoso de você’. Através do meu trabalho consegui conquistar meu espaço quanto profissional. E assim que eu enfrento os preconceitos quando aparecem, sempre sendo a melhor profissional que posso ser, buscando dar os melhores resultados, pois contra resultados não há argumentos”, conclui Elizane.

Mais informações sobre o evento Diversibram - Mineração sem Rótulos:  https://ibram.org.br/evento/diversibram-2023/


Elizane Andrade, presidente da Assopem (foto: Divulgação)