Vale produziu pela primeira vez pelotas substituindo 100% do combustível fóssil

Teste Realizado na pelotizadora de Vargem Grande (MG), em escala industrial, dispensa o carvão antracito

Por Conexão Mineral 17/03/2023 - 21:34 hs
Foto: Sonia Bittencourt
Vale produziu pela primeira vez pelotas substituindo 100% do combustível fóssil
Teste utilizou biocarbono, de origem vegetal, no processo de queima das pelotas

A Vale anunciou no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas (16/3), que conseguiu produzir pela primeira vez, em escala industrial, uma pelota com qualidade comercial sem o uso de carvão antracito. Realizado na pelotizadora de Vargem Grande (MG), o teste substituiu 100% do combustível fóssil por biocarbono no processo de queima da pelota, aglomerado de minério de ferro utilizado na produção de aço na siderurgia. O biocarbono é um produto renovável, obtido através da carbonização de biomassa e, portanto, de emissão zero. 

O carvão antracito corresponde a cerca de 50% das emissões de CO2 na pelotização, que, por sua vez, é o processo mais intensivo em carbono relativo às emissões diretas da companhia. Hoje, a pelotização corresponde a 30% do total do escopo 1. O teste foi iniciado com taxa de substituição de 50% do carvão pelo biocarbono, evoluindo gradativamente até chegar a 100%. No total, foram produzidas cerca de 50 mil toneladas de pelotas, das quais 15 mil com 100% de biocarbono de origem certificada.

Segundo o engenheiro Rodrigo Boyer, que conduziu a iniciativa, apenas na pelotizadora de Vargem Grande, o uso do biocarbono representa uma redução de cerca de 350 mil toneladas de CO2 anualmente, o equivalente à emissão de, aproximadamente, 75,4 mil carros populares de 1 mil cilindradas por ano . “Serão realizados novos testes em 2023 de maior duração para avaliação completa do processo. Só depois desta etapa, poderemos gerar informações para o desenvolvimento da engenharia necessária visando à implantação definitiva do projeto”, explicou. 

O gerente-executivo de Projetos de Descarbonização da Vale, Rodrigo Araújo, disse que o teste é mais um passo importante na jornada da Vale em seu compromisso de zerar suas emissões líquidas de carbono nos escopos 1 e 2 até 2050. O escopo 2 refere-se às emissões indiretas, provenientes da compra de energia elétrica. “No caso da pelotização, o uso do biocarbono é a nossa principal iniciativa pelo fato de haver um grande potencial de produção de biomassa no Brasil”, afirmou.


Mudanças Climáticas 

A escolha do Dia Nacional de Conscientização sobre Mudanças Climáticas para o anúncio do resultado do teste de biocarbono na pelotização não foi por acaso. A data foi estabelecida pela Lei nº 12.533, de 2011, como uma forma de promover a conscientização e o debate sobre os impactos das mudanças climáticas no planeta e para incentivar a adoção de medidas que visem à mitigação desses impactos.
Nessa direção, a Vale está investindo entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir em 33% suas emissões diretas e indiretas até 2030, alinhada ao Acordo de Paris, com o objetivo de se tornar net zero em 2050. Além disso, até 2035, a empresa se comprometeu a cortar em 15% suas emissões de escopo 3, relacionados à cadeia de valor (fornecedores e clientes). 
"A agenda climática é prioridade para a Vale. Por exemplo, desde 2020 a companhia adota um preço interno de carbono de US$ 50 por tonelada de CO2 equivalente ao avaliar a alocação de capital em novos projetos", comenta Rodrigo Lauria, gerente-executivo de Mudanças Climáticas da Vale. 
Para atingir esses objetivos, a companhia tem investido em tecnologias de baixo carbono, como a utilização de caminhões elétricos de 72 toneladas, já em operação na Indonésia e em Minas Gerais e em cerca de 50 equipamentos de mina subterrânea no Canadá. Entre os avanços no escopo 2, destaca-se o início da operação da usina do Sol do Cerrado, em Jaíba (MG), considerada uma das maiores plantas solares do país, com capacidade para gerar energia suficiente para o abastecimento de uma cidade com cerca de 30 mil habitantes.
No escopo 3, a Vale já firmou parcerias com mais de 30 clientes siderúrgicos, que representam cerca de 50% das emissões da companhia. Em 2021, a companhia lançou o briquete verde, um produto formado por minério de ferro e uma solução tecnológica de aglomerantes, capaz de reduzir em até 10% das emissões de gases do efeito estufa na produção de aço de seus clientes. A empresa está convertendo duas usinas de pelotização, em Vitória, para produzir o briquete verde. A capacidade inicial de produção é de cerca de 6 milhões de toneladas por ano. Com investimento total de US$ 182 milhões, as duas plantas entram em operação até o fim deste ano. 
A Vale fechou ainda acordos com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Omã para a criação de mega hubs destinados à produção de HBI (hot briquetted iron) e produtos de aço de alta qualidade a partir do uso de briquete verde. A produção de HBI com utilização de gás natural, como o previsto no projeto dos mega hubs, permitirá emitir aproximadamente 60% a menos de carbono, quando comparado com fornos tradicionais siderúrgicos, que usam coque e carvão. No futuro, a substituição de gás natural por hidrogênio e a utilização de energia renovável poderão eliminar as emissões de CO2. 
Na navegação, cuja emissão também é ligada ao escopo 3 já que a Vale não possui frotas, estão sendo realizados testes de navios equipados com velas de rotor e tecnologia de lubrificação a ar. O objetivo é reduzir em até 8% das emissões por meio da tecnologia de propulsão de baixo carbono usando o vento como energia.