Inteligência Artificial no setor minero-metalúrgico foi tema de discussões na 8ª ABM Week
A Inteligência Artificial (IA) tem revolucionado os setores de siderurgia e mineração, trazendo avanços significativos em automação, eficiência e segurança. De acordo com projeção da ABI Research, os investimentos globais em tecnologias digitais na indústria de mineração devem alcançar US$ 9,3 bilhões até 2030.
No setor de mineração, a IA tem contribuído para a exploração e a extração de recursos de maneira mais sustentável e segura, por meio da utilização de veículos autônomos, sensores e algoritmos de machine learning. Já na siderurgia, a IA tem sido utilizada para otimizar processos de produção, prever falhas em equipamentos e melhorar a qualidade dos produtos finais.
Atenta a esse cenário, a ABM – Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração trouxe quatro mesas-redondas focadas em Inteligência Artificial para o setor minero-metalúrgico em seu principal evento anual, a 8ª ABM Week. Ao longo da maior semana técnico científica da América Latina nas áreas de metalurgia, materiais e mineração, especialistas da indústria e da academia debateram sobre as últimas inovações e desafios enfrentados na implementação da IA nesses setores.
Apesar de sua ascensão meteórica, questões como a ética no uso de dados estão entre os maiores desafios em relação às IAs generativas. De acordo com os especialistas do evento, entre os riscos, há a importância da ética e transparência na coleta e uso de dados, bem como a necessidade de pesquisas profundas para garantir a eficácia e a segurança da aplicação da IA, especialmente em contextos educacionais onde fatores “invisíveis aos algoritmos” da máquina podem ofuscar e distorcer julgamentos e conclusões.
IA e sustentabilidade
A mesa-redonda “IA aplicada ao desenvolvimento de produtos e sustentabilidade nos processos de conformação”, realizada no segundo dia da ABM Week 2024, destacou o uso da Inteligência Artificial no setor de metalurgia. O evento fez parte do 59º Seminário de Laminação e Conformação de Metais, contando com palestrantes da ArcelorMittal, Usiminas e VETTA e teve como coordenadores os consultores José Herbert Dolabela e Júlio César Enge.
Jetson Lemos Ferreira, Pesquisador da ArcelorMittal, apresentou exemplos práticos do uso da IA para prever defeitos complexos e desenvolver novos tipos de aço. Giselle Miranda Bento, Gerente de Inteligência da Informação da Usiminas, abordou como a empresa integra IA em processos produtivos, promovendo uma cultura orientada a dados para otimizar operações como o recozimento. Lis Nunes Soares, Diretora de Eficiência Energética da VETTA, ressaltou a importância da IA para aumentar a eficiência energética e reduzir emissões, utilizando-a para antecipar padrões e evitar excessos de testes práticos. “Quando a gente fala de energia, é como se olhássemos para um retrovisor, ou seja, o fato já ocorreu. Então, o uso da IA nos auxilia a identificar comportamentos e padrões para que possamos realizar as devidas adequações antes de evitar o excesso de testes práticos”, afirmou Lis, da VETTA.
“A IA é mais uma tecnologia dentro da cultura orientada a dados; o dado tem que fazer parte da estratégia e ser democratizado para atuar na rotina de tomada de decisão do dia a dia", disse Giselle, da Usiminas.
IA generativa na indústria
A mesa-redonda “Perspectivas e desafios de implementações de IA Generativa na Indústria” reuniu especialistas da Microsoft, Gerdau, EloGroup e Deloitte. O debate, coordenado por Renato Cesar Braga, Coordenador de Engenharia Elétrica e Automação da Vallourec South América, e Leandro Rodrigues Ramos, Especialista de Automação e Controle de Processo da ArcelorMittal), foi moderado por Douglas Vieira, Diretor Executivo da Enacom. A organização ficou a cargo da Comissão Técnica de Automação e TI, e o debate enfatizou tanto o potencial quanto os desafios éticos e técnicos da IA na indústria.
Francisco de Almeida, Data & IA Senior Manager da EloGroup, destacou o impacto econômico da IA, cujo valor anual gerado está na faixa entre 9,5 e 26 trilhões de dólares, de acordo com sua apresentação durante a 8ª ABM Week.
Rodrigo Sarkis, Estrategista Técnico de Contas Globais da Microsoft, acredita que a Inteligência Artificial é uma ferramenta que pode ser incorporada em diversos setores. De acordo com o profissional, a IA pode ser utilizada na hiper personalização, aplicada a estratégias de marketing e vendas, produção de conteúdo para novos produtos e serviços, atendimento e avaliação de serviços de call center, modelos de copiloto para funcionários, entre outros. Rodrigo ressaltou o sucesso do ChatGPT – chatbot mais utilizado em todo o mundo, ultrapassando 200 milhões de usuários por semana –, alertando para o uso criterioso da IA. “É preciso utilizar a inteligência humana e parcimônia no momento de desenvolver interações com aplicações generativas”, aconselha.
Rafael Guimarães, Gerente Geral de Portfólio Digital da Gerdau, apresentou projetos de IA da empresa, sendo o primeiro o Data4ALL, plataforma aberta ao público geral que conta com mais de 30 cursos, incluindo a temática de IA, e 340 aulas. Ao todo, mais de 7 mil pessoas já se registraram na ferramenta. O segundo projeto, de cunho interno, oferece um assistente de chat, via Copilot, com intuito de otimizar tarefas diárias e oferta de bootcamps de IA integrados entre os setores da companhia.
Já João Zaiden, Head de Ativos Inteligentes no grupo de Operações Inteligentes da Deloitte, abordou a questão ética da IA no contexto industrial. Em questão de uso industrial, mencionou que uma solução viável ocorre no desenvolvimento de respostas e soluções estritamente ligadas aos temas de interesse. Ou seja, se algum colaborador questionar sobre questões de cunho fora do escopo de trabalho, a máquina simplesmente aponta o desconhecimento da pauta, evitando alucinações por parte da máquina e situações constrangedoras.
Inteligência Artificial e mineração
A mesa-redonda “Inteligência Artificial na Mineração” discutiu o papel da IA na melhoria da competitividade da mineração brasileira e nos desafios da transição energética global. Organizado pela Comissão Técnica Mineração, o debate foi moderado por Gisele Regina Hwang, Especialista em Engenharia da Vale, também coordenadora do evento.
Mesa-redonda Inteligência Artificial na Mineração
Especialistas como Giorgio de Tomi, Professor e Diretor do Centro de Mineração da USP; Marcelo Tavares, Professor Titular da COPPE/UFRJ; Constantino Seixas, Diretor Geral da Accenture; e Ana Carolina de Piero Bruno, Especialista em Inovação da Vale, destacaram como a IA pode otimizar operações de mineração, sem substituir o conhecimento técnico acumulado. O debate também abordou riscos éticos e a necessidade de pesquisas rigorosas para garantir o uso seguro da IA, mantendo o papel indispensável da expertise humana.
“A IA nunca pode ser a palavra final em processos e atividades técnicas. A expertise humana, especialmente em questões de segurança, é indispensável. Por isso, quando utilizamos essa tecnologia, a resposta gerada deve ser encarada como uma sugestão, nunca uma ordem definitiva a ser seguida”, disse Carolina, da Vale.
Um destaque dado ao uso de Inteligências Artificiais é o seu potencial para uma transição energética global e como o setor brasileiro pode incorporar essa ferramenta para tal finalidade. “O mundo está sedento por minerais para a transição energética, e o Brasil tem uma grande oferta e facilidade de produção. Temos uma oportunidade única de sermos protagonistas, não apenas no fornecimento de matérias-primas para essa transição, mas também para a descarbonização de maneira geral. Com o uso da IA, podemos tornar nossa indústria mais competitiva e esse é um caminho sem volta que precisamos aproveitar”, apontou o professor Giorgio de Tomi, da USP.
Uso de IA por estudantes
A Inteligência Artificial não está longe das salas das universidades e, em face disso, um dos debates durante a ABM Week permeou o uso responsável pelos estudantes. A mesa-redonda “Uso de IA pelos estudantes: Riscos e Oportunidades”, organizada pela Comissão Técnica de Iniciação científico-tecnológica, teve Geraldo Lúcio de Faria, Professor da UFOP, na função de moderador, além de ter sido coordenado pelo Professor Willy Ank de Morais, da Unisanta.
Os participantes da mesa-redonda foram Guilherme Frederico Bernardo Lenz e Silva, Professor do Departamento de Engenharia Metalúrgica da Escola Politécnica da USP; Weslei Monteiro Ambros, Professor Adjunto de Engenharia Metalúrgica da UFRGS; Ana Beatriz das Neves, Estudante de Engenharia de Materiais pela UFPA; Lívia Viana, Estudante de Engenharia de Materiais na UFF; e Nícolas Henrique Ferreira, Estudante de Engenharia Metalúrgica da UFMG.
Durante o debate, os participantes alertaram que, ao depender exclusivamente da IA para criar materiais do zero ou preencher lacunas com informações imprecisas, o processo de aprendizado é prejudicado. Esse comportamento pode comprometer o desenvolvimento de habilidades críticas e a capacidade de resolver problemas de forma independente, o que é essencial tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado de trabalho.
Um dos pontos discutidos foi o letramento digital, evidenciando que o desafio não se encontra apenas no uso da IA, e sim na persistente falta de acesso à internet e tecnologia por uma parcela significativa da população. Isso significa que em termos de métricas de desenvolvimento socioeconômico e humano, pula-se uma etapa da caminhada tecnológica, focando apenas em agendas e pautas tecnológicas mais recentes.
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