ESG na gestão de riscos do setor de mineração
Por Carla Contini e Marjorie Leite*
Com a proteção dos recursos naturais em crescente destaque na agenda global de negócios, a indústria da mineração enfrenta uma pressão cada vez maior de reguladores, seguradoras, investidores e outras entidades para demonstrar seu comprometimento com princípios ambientais, sociais e de governança (ESG).
Portanto, a adoção de uma abordagem de gerenciamento de riscos proativa, focada em princípios ESG é fundamental, pois permite identificar a extensão das ameaças com precisão, priorizar e mitigar esses riscos, minimizando o impacto sobre o desempenho, a reputação da empresa e oportunidades de investimento futuras.
Os critérios que examinam o impacto de uma empresa de mineração na natureza têm como objetivo construir uma estratégia comercial sustentável e estendem-se às atividades de pós-produção durante a reabilitação da área. Os fatores incluem medir e gerenciar a poluição do ar, da água e do solo; o uso eficiente de recursos-chave, como a água; mensurar o impacto da organização sobre a biodiversidade; calcular o consumo de energia e suas emissões de CO2; e sua vulnerabilidade a catástrofes, em termos físicos e logísticos.
Conforme aumenta a demanda por exploração, mineração e processamento de matérias-primas críticas para a transição de energia limpa, as empresas de mineração irão se deparar com a oportunidade de integrar e aprimorar suas políticas ambientais, em alinhamento com iniciativas globais.
Os critérios que examinam como uma empresa trata e valoriza seus funcionários e a comunidade em geral podem incluir as políticas de gestão trabalhista de uma organização, seus compromissos com a saúde, segurança e bem-estar de seus colaboradores, os impactos positivos e negativos que suas atividades podem ter sobre a comunidade local e o cumprimento de normas trabalhistas de seus fornecedores.
Os critérios que avaliam as práticas de Governança Corporativa de uma empresa têm foco na estrutura da diretoria, em particular sobre diversidade da alta liderança, qualidade da auditoria, transparência e o relacionamento da empresa com os órgãos governamentais e reguladores, bem como com ONGs.
E, afinal, no que as empresas devem se concentrar primeiro?
ESG e sustentabilidade são áreas amplas e complexas, o que torna difícil saber o que priorizar. No entanto, recomendamos que o percurso inclua alguns questionamentos por parte das companhias.
O primeiro diz respeito a saber qual é o atual estágio de maturidade da empresa em clima e outros aspectos relacionados com ESG na comparação com os concorrentes e, a partir daí, o que precisa ser feito para atender à preparação de relatórios.
Como as mudanças climáticas impactam os ativos da empresa e sua cadeia de suprimentos e como a exposição ao risco físico pode mudar ao longo do tempo são outros pontos que precisam ser abordados.
Um terceiro aspecto relevante é saber como a transição para uma economia de baixo carbono afetará as operações e quais impactos financeiros. Um exemplo: uma mudança na demanda por commodities ou a necessidade de práticas mais sustentáveis influenciarão nossa estratégia?
Outro ponto fundamental é definir como a organização pode implementar o planejamento de risco e resiliência climática na sua estratégia de negócios.
Levantar os impactos das mudanças climáticas no mercado de seguros e como eles podem afetar a organização é outro aspecto relevante.
Já no que se refere propriamente às ações a serem tomadas pelas companhias, elas incluem avaliar as implicações das práticas ESG na sua empresa, utilizando dados do setor, índices de risco, modelagem de cenários de risco climático e perspectivas das principais partes interessadas.
Algumas das ações mais discutidas são diminuir a quantidade de resíduos gerados e fazer o seu descarte correto, racionar o uso de água, reabilitar áreas degradadas, gerenciamento de crise mais eficiente e adequação à legislação ambiental vigente.
Também é fundamental conhecer os requisitos utilizados para reportes externos. Isso porque muitas instituições financeiras globais já estão alinhadas às estruturas de divulgações não-financeiras, tais como a Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), Task Force on Nature-Related Financial Disclosures (TNFD) e a Global Reporting Initiative (GRI).
O fato é que, com relação às práticas ESG, ações rápidas e uma comunicação eficaz ajudam empresas a atrair capital, fortalecer relações com comunidades e mitigar impactos ambientais e sociais, garantindo competitividade e resiliência operacional.
(*) Carla Contini, superintendente de casualty da Marsh Brasil, e Marjorie Leite, consultora de Clima e Sustentabilidade da Marsh Advisory LAC.
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